sábado, 27 de fevereiro de 2010

os degraus

luz e mistério

Oh! Meu grande bem
Pudesse eu ver a estrada
Pudesse eu ter
A rota certa que levasse até
Dentro de ti

Oh! meu grande bem
Só vejo pistas falsas
É sempre assim
Cada picada aberta me tem mais
Fechado em mim

És um luar
Ao mesmo tempo luz e mistério
Como encontrar
A chave desse teu riso sério

Doçura de luz
Amargo e sombra escura
Procuro em vão
Banhar-me em ti
E poder decifrar teu coração

És um luar
Ao mesmo tempo luz e mistério
Como encontrar
A chave desse teu riso sério

Oh grande mistério, meu bem, doce luz
Abrir as portas desse império teu
E ser feliz

lembrete

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

o que for simples



[beto guedes-tudo em você]

das insignificâncias

"A poesia está guardada nas palavras
é tudo o que eu sei.
Meu fado é de não entender quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não cultivo conexões com o real.
Para mim poderoso não é aquele
Que descobre ouro.
Poderoso para mim é aquele que
Descobre as insignificâncias:
do mundo e as nossas.
Por essa pequena sentença
me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios".
[Manoel de Barros]

nada é definitivo

ninguém ama com bons modos

geração paissandu

Vim, como todo mundo,
do quarto escuro da infância,
mundo de coisas e ânsias indecifráveis,
de só desejo e repulsa.
Cresci com a pressa de sempre.

Fui jovem, com a sede de todos,
em tempo de seco fascismo.
Por isso não tive pátria, só discos.
Amei, como todos pensam.
Troquei carícias cegas nos cinemas,
li todos os livros, acreditei
em quase tudo por ao menos um minuto,
provei do que pintou, adolesci.

Vi tudo que vi, entendi como pude.
Depois, como de direito,
endureci. Agora a minha boca
não arde tanto de sede.
As minhas mãos é que coçam —
vontade de destilar
depressa, antes que esfrie,
esse caldo morno de vida.
[Paulo Henriques Britto]

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

sê paciente;ESPERA



[pink floyd-Wish you were here]

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

minha filha sem mim

o gesto necessário e só

humildade

Tudo é tão vago e intenso que às vezes
sento no meio-fio do meu corpo.
Olho para mim como se não tivesse feito nada.
E não ardo em compaixão, muito menos orgulho,
mas me lembro do esforço que fiz
para chegar aqui e falar e de repente me calo.
Assim como me calei outras vezes
e em seguida falei o que deveria ter dito
para ninguém ouvir, nem eu.
Não, não conseguirei ser compreendido
porque não compreendo tão rápido.
Compreendo devagar, na insolação do silêncio.
Meus momentos de maior apreensão era cruzar
os braços na classe antes do final da aula.
O cheiro de janela da minha mesa verde.
Os cadernos engavetados na mochila,
ao lado da térmica e da maçã. Os desenhos
que não completei. As notas que não consegui.
Os braços de giz da professora aguardando o sinal.
A cadeira de madeira dura e quadrada.
A teimosia da cabeça que se levantava
para verificar se os colegas
me acompanhavam no abandono.
O estômago subindo à garganta.
A vida tem essas tréguas,
onde deixo de existir por alguns minutos.
E Deus me libera a pensar sem conselhos ou ordens.
As camisas abotoadas. Os ouvidos limpos.
As unhas roídas. A fila indiana.
Carregar a criança no colo, depois segurar
sua mão nos passeios, receber seu abraço
de girar a cintura, perder o contato,
retomar o traço, voltar a dar as mãos,
até ser carregado pelo filho à cama
e pedir para que ele conte a história de sua vida.
Encontrar a humildade para dormir,
dormir no meio de sua voz,
na única voz que me liberta da minha.
[Fabrício Carpinejar]

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

exercício

grosseria

lembra-te


refrão de um bolero

o engano

além da Terra,além do Céu

´
[sinônimos - zé ramalho e chitãozinho xororó]

ama-se...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

vigília

o espelho de um momento

Ele dissipa o dia,
Ele mostra aos homens
as imagens soltas da aparência,
Ele retira dos homens
a possibilidade de se distrair.
Ele é duro como a pedra,
A pedra disforme,
A pedra do movimento e da vista,
E seu clarão é tal que todas as armaduras,
todas as máscaras são nele deformadas.
Isto que a mão pegou desdenhosa
mesmo de pegar a forma da mão,
Isto que foi compreendido não existe mais,
O pássaro se confundiu como o vento,
O céu com sua verdade,
O homem com sua realidade.

Paul Éluard
Tradução: Virna Teixeira

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

domingo, 14 de fevereiro de 2010

sem sinal-da-cruz

O poema

Um poema como um gole
d'água bebido no escuro.

Como um pobre animal
palpitando ferido.

Como pequenina
moeda de prata
perdida para sempre
[na floresta
noturna.

Um poema sem
outra angústia que a sua misteriosa
[condição de poema.

Triste
Solitário.
Único.
Ferido de mortal beleza.

Mario Quintana
[Do livro O aprendiz de feiticeiro]

sábado, 13 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

ainda não

Arranhar a pele não é cheirar minha roupa.
Deitar no sofá não é entrar em minha solidão.
Segurar-se na parede não é observar meus quadros.
Tomar o meu café não é antecipar a minha boca.
Abrir minhas gavetas não é descobrir meus segredos.
Ouvir a minha respiração não é tirar o meu ar.
Satisfazer meus desejos não é conhecê-los.
Segurar minha mão não é explorar meu rosto.
Trocar a água da jarra não me deixará vivo.
Dividir a mesa não é repartir o prato.
Trancar a porta não fecha as saídas.
Copiar a minha letra não é repetir meu medo.
Amarrar os meus sapatos não me prende aos pés.
Gastar o tempo não é preenchê-lo.
Anotar na agenda não prova que existimos.
Ouvir uma música não é cantá-la.
Plantar uma árvore não é florescê-la.
Gerar um filho não é cuidá-lo.
Abandonar um livro não é lê-lo.
Sentir ciúme não controla o amor.
Esperar não é se adiantar.
Dormir em minha cama
ainda não é morar em minha casa.

a verdade organizada é uma mentira

frente a frente




heartless - the fray

domingo, 7 de fevereiro de 2010

sábado, 6 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010