segunda-feira, 30 de abril de 2012

labirintos



"há labirintos que são uma renda
na qual os olhos se emaranham
e as mãos trabalham cuidadosas,
construindo detalhes
em voltas quase imperceptíveis
que cobrem e descobrem
e desenham desenhos impossíveis:
os mais belos.

nestes labirintos eu me perderia
com a alma leve
e o corpo a cantar
num ritmo de blues.

como se tecesse cada dia.
como se tecesse a minúcia,
a curva,
o fio tênue;
entremeadas as palavras
e os passos.

fôlego breve,
grito semi surdo,
olhos voltados para o encantamento.

vida a correr nas veias."

Silvia Chueire


"A verdade é que vivo de paixões
paixão de luz, de mar, de amar
o mundo de todas as maneiras
de ver pelo teu olhar, pelo meu
mas sempre inteira me entrego
a tudo o que me toca
assim sou eu

...

A chama acesa sempre
sou eu assim"

Bárbara Pais

sexta-feira, 27 de abril de 2012

ser, parecer



"Entre o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida

Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos."

Mia Couto


"Possuir é perder.
Sentir sem possuir é guardar,
porque é extrair de uma coisa a sua essência."

Fernando Pessoa

mesa dos sonhos



"Ao lado do homem vou crescendo

Defendo-me da morte quando dou
Meu corpo ao seu desejo violento
E lhe devoro o corpo lentamente

Mesa dos sonhos no meu corpo vivem
Todas as formas e começam
Todas as vidas

Ao lado do homem vou crescendo

E defendo-me da morte povoando
de novos sonhos a vida."

Alexandre O'Neill

domingo, 22 de abril de 2012

lembrança alada


"Em alguma vida fui ave.

Guardo memória
de paisagens espraiadas
e de escarpas em voo rasante.

E sinto em meus pés
o consolo de um pouso soberano
na mais alta copa da floresta.

Liga-me à terra
uma nuvem e seu desleixo de brancura.

Vivo a golpes
com coração de asa
e tombo como um relâmpago
faminto de terra."

Mia Couto

"Lembra o tempo que você sentia. E sentir era a forma mais sábia de saber e você nem sabia ?"


Alice Ruiz

terça-feira, 17 de abril de 2012

o assunto...



"E nunca me perguntes o assunto de um poema:
-um poema sempre fala de outra coisa."

Mario Quintana


"Amar o perdido deixa confundido este coração."

Carlos Drummond de Andrade

procurar o que?




"O que a gente procura muito e sempre não é isto nem aquilo.
É outra coisa.
Se me perguntam que coisa é essa, não respondo, porque não é da conta de ninguém o que estou procurando.
Mesmo que quisesse responder, eu não podia.
Não sei o que procuro.
Deve ser por isso mesmo que procuro.
Me chamam de bobo porque vivo olhando aqui e ali, nos ninhos, nos caramujos, nas panelas, nas folhas de bananeiras, nas gretas do muro, nos espaços vazios.
Até agora não encontrei nada.
Ou encontrei coisas que não eram a coisa procurada sem saber, e desejada.
Meu irmão diz que não tenho mesmo jeito, porque não sinto o prazer dos outros na água do açude, na comida, na manga e procuro inventar um prazer que ninguém sentiu ainda.
Ele tem experiência de mato e de cidade, sabe explorar os mundos, as horas.
Eu tropeço no possível e não desisto de fazer a descoberta do que tem dentro da casca do impossível.
Um dia descubro.
Vai ser fácil, existente, de pegar na mão e sentir.
Não sei o que é.
Não imagino forma, cor, tamanho.
Nesse dia vou rir de todos.
Ou não.
A coisa que me espera, não poderei mostrar a ninguém.
Há de ser invisível para todo mundo, menos para mim, que de tanto procurar fiquei com merecimento de achar e direito de esconder."

Carlos Drummond de Andrade


"A ferida por baixo da cicatriz -

QUEM CURA ? "


Vasco Gato
arte de Daria Endresen

domingo, 15 de abril de 2012



"Vivam, apenas.

Sejam bons como o sol.
Livres como o vento.
Naturais como as fontes.

Imitem as árvores dos caminhos
que dão flores e frutos
sem complicações.

Mas não queiram convencer os cardos
a transformar os espinhos
em rosas e canções.

E principalmente não pensem na Morte.
Não sofram por causa dos cadáveres
que só são belos
quando se desenham na terra em flores.

Vivam, apenas.
A Morte é para os mortos!"

José Gomes Ferreira

sábado, 14 de abril de 2012

assim



"Se perguntam como vou
nem sei se saberia saber dizer
que vou assim
como sei ir
sem pressas cada vez menos
sem pressas de chegar
a lugar algum
que saiba saber dizer
assim cada vez menos com um fim
sem pensar
somente a ver
com todos os sentidos
e a gostar
a gostar"

Bárbara Pais

sábado, 7 de abril de 2012



ANJOS:
os mais insuspeitos chegam ao seu trono com
as mãos a sangrar de tanto vencer precipícios.

Agustina Bessa-Luis

folha de papel



Em tuas mãos
sou folha de papel em branco

escreve
me
desenha
me
pinta
me
risca
me
dobra
me
em múltiplos origamis

mas

não
pises
não
rasgues
não
amachuques
não
jogues fora

converte
me
em aviãozinho
e
deixa
me
voar.

Fátima Guimarães

Queria que este poema fosse para ti...



"Queria que este poema fosse para ti.
Mesmo que não o ouvisses,
Mesmo que não pudesses lê-lo,
Mesmo que a escuridão e o medo te fizessem esquecer quem sou.
Queria que este poema fosse para ti.
Mesmo que as palavras estivessem gastas e que os gestos se cansassem de sorrir,
Mesmo que fizesse frio e a solidão te gelasse os sentidos.
Queria que este poema fosse para ti.
Mesmo que eu já não estivesse.
Mesmo que te escrevesse de qualquer outro lugar. Mesmo que te sorrisse. Mesmo que te amasse sem nunca te poder amar."

Isa Mestre

domingo, 1 de abril de 2012