quarta-feira, 30 de junho de 2010

homem



Inútil definir este animal aflito.
Nem palavras,
nem cinzéis,
nem acordes,
nem pincéis,
são gargantas deste grito.
Universo em expansão.
Pincelada de zarcão
Desde mais infinito a menos infinito.

tudo em você




Eu não chamo o abandono de solidão
Viver sob a noite estrelada/Atravessar
Ponto na multidão/Quem não se sente só?

Sol na pele/Pingos de chuva em cada olhar
Sinais/Passam nas carrruagens que vão pro mar
Vão e não voltam mais/Antes me dão um nó

Quem repara bem na paixão
Não separa um sim de um não
Um não de um talvez
Terá sua vez
A primeira condição
De um amor viver de ilusão
Querer ser feliz
Sugar na raiz...
Tudo em você

Quem não sente a brasa dormida do coração
pulsar/Diz alguém que não treme frente a visão
Anjo que passa e vai/Imã que nos atrai

Mal secreto não pede esmola nem tem perdão
Viver sob a noite estrelada [...]
Tudo em você...tudo em você.

o poder que eu quisera...



“O poder que eu quisera é dominar meu medo.
Por esse grande dom troco meu verso, meu dedo,
meus anéis e colar.
Só meu colo não ponho no machado,
porque a vida não é minha.
Com um braço só, uma só perna,
ou sem os dois de cada um, vivo e canto.
Mas com todos e medo, choro tanto
que temo dar escândalo a meus irmãos.
Tristeza é o nome do castigo de Deus
e virar santo é reter a alegria.
Isso eu quero.”


Adélia Prado-choro à capela
arte de benjamin goss

sobre a vida




“A vida não tem ensaio
mas tem novas chances
Viva a burilação eterna, a possibilidade
o esmeril dos dissabores!
Abaixo o estéril arrependimento
a duração inútil dos rancores
Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos:
a vida inédita pela frente
e a virgindade dos dias que virão!”

Elisa Lucinda- Libação



"O segredo da felicidade e o cúmulo da arte
é viver como todo mundo e ser como ninguém."

Simone De Beauvoir

terça-feira, 29 de junho de 2010

não temo a verdade



Eu não quero saber.
- O que soube esqueci.
Seguro nos dentes
o que sinto.
Não temo a verdade.

Beatriz Luz

domingo, 27 de junho de 2010

o que fazes quando a mentira...



Eu não quero mais mentir
Usar espinhos
Que só causam dor
Eu não enxergo mais o inferno
Que me atraiu
Dos cegos do castelo
Me despeço e vou
A pé até encontrar
Um caminho, um lugar
Pro que eu sou...

Eu não quero mais dormir
De olhos abertos
Me esquenta o sol
Eu não espero que um revólver
Venha explodir
Na minha testa se anunciou
A pé a fé devagar
Foge o destino do azar
Que restou...

E se você puder me olhar
Se você quiser me achar
E se você trouxer o seu lar...

Eu vou cuidar
Eu cuidarei dele
Eu vou cuidar
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Do seu jardim...

Eu vou cuidar
Eu cuidarei muito bem dele
Eu vou cuidar
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Eu cuidarei do seu jantar
Do céu e do mar
E de você e de mim...

amor...



contradiz-me.
vá, nega a minha verdade,
convence-me de que há algo que te impregna mais a pele,
que se demora mais em ti.

Pedro Jordão
imagem deviantart.com

quinta-feira, 24 de junho de 2010

sobrou a distancia



tão curta foi a palavra entre as bocas
sobrou a distância. a boca
na boca é um problema de tamanho.
por exemplo. os beijos os teus beijos
eram palavras enormes. agora
faltam-te os centímetros nos lábios
e esqueces-me em cada frase tua
que não me cai na pele.

DESAMOR...
é uma palavra tão comprida.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

toda mulher tem um homem...



toda mulher tem um homem que se foi
um homem que a deixou por outra
um homem que a deixou por um câncer
um homem que nem mesmo a notou
um homem que a deixou por um ideal
um homem que sumiu num temporal
um homem que não passou de dois drinques
toda mulher tem um homem que se foi
um homem que foi pego em flagrante
um homem que prometeu um brilhante
um homem que saiu para jogar
toda mulher tem um homem
que esqueceu de voltar

Martha Medeiros
Imagem-olhares.com Graça Loureiro

a alegria


imagem-flickr.com Fayre

com vontade de ser feliz



Hoje, confesso, acordei com vontade de ser feliz.
Amarrei, até, no pulso o amor-perfeito
que foi secando no meu peito e retomei a velha máxima:
não deixar que qualquer angústia atinja o coração.
Um castelo de areia, é tudo quanto quero
para acostar o meu barco de papel.[...]

Graça Pires
imagem-maguaphotos

tanta saudade



Era tanta saudade/É , pra matar
Eu fiquei até doente/Eu fiquei até doente, menina
Se eu ficar na saudade/É , deixa estar
Saudade mata a gente/Saudade mata a gente, menina
Quis saber o que é o desejo/De onde ele vem
Fui até o centro da terra/E é mais além
Procurei uma saída/O amor não tem
Eu estava ficando louco/Louco, louco de querer bem

Yeah, tum tum tum, tumtumtumtum, yeah...

Mas restou a saudade/É , pra ficar
Ai, eu encarei de frente/Ai, eu encarei de frente, menina
Se eu ficar na saudade/E deixar
Saudade engole a gente/Saudade engole a gente, menina
Quis saber o que é o desejo/De onde ele vem
Fui até o centro da terra/Bem mais além
Procurei uma saída/O amor não tem
Estava ficando louco/Louco, louco de querer bem
Quis chegar até o limite/De uma paixão
Baldear o oceano/Com a minha mão
Encontrar o sal da vida/E a solidão
Esgotar o apetite/Todo o apetite do coração

Tum tum tum, tumtumtumtum, yeah...

Ai, amor, miragem minha, minha linha do horizonte,
é monte atrás de monte, é monte, a fonte nunca mais que seca
Ai, saudade, inda sou moço, aquele poço não tem fundo,
é mundo e dentro um mundo e dentro...
É UM MUNDO QUE ME LEVA...

Yeah, tum tum tum, tumtumtumtum, yeah...

imagem deviantart.com

segunda-feira, 21 de junho de 2010

o amor sabe



Entraste na casa do meu corpo,
desarrumaste as salas todas
e já não sei quem sou, onde estou.
O amor sabe. O amor é um pássaro cego
que nunca se perde no seu voo.

Casimiro de Brito
imagem-Rita Braga

sossego

domingo, 20 de junho de 2010

à boca fechada



Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

José Saramago-os poemas possíveis
imagem-Schnette

de-li-be-ra-da-men-te



Mereço (merecemos, meretrizes)
perdão (perdoai-nos, patres conscripti)
socorro (correi, valei-nos, santos perdidos)

Eu quero me livrar desta poesia infecta
beijar mãos sem elos sem tinturas
consciências soltas pelos ventos
desatando o culto das antecedências
sem medo de dedos de dados de dúvidas
em prontidão sangüinária

(sangue e amor se aconchegando
hora atrás de hora)

Eu quero pensar ao apalpar
eu quero dizer ao conviver
eu quero partir ao repartir

filho
pai
e
fogo
DE-LI-BE-RA-DA-MEN-TE
abertos ao tudo inteiro
maiores que o todo nosso
em nós (com a gente) se dando

HOMEM: ACORDA!

Ana Cristina Cesar-Deus na Antecâmara
imagem - final toto

me arde uma alegria



Sem explicação, ordem e motivo, me arde uma alegria, que não aceita ser felicidade, porque a felicidade é uma palavra muito longa e a alegria tem pressa. Não sei se é uma alegria herdada, uma alegria que esbarrou em mim e que me salvou de ter pensado demais para devolvê-la. Uma alegria que é muscular, como se o ar fosse uma guitarra encordoando o ar, e houvesse um amor me pedindo para falar baixo nos ouvidos ou uma criança me chamando pelo apelido que esqueci. Uma alegria sem dono, que poderia ser uma ovelha de água, uma orelha de mar, um poço com hálito de café, uma figueira entranhada de pedras, o barulho alaranjado do portão que denuncia a visita, a tosse do fogo, as ervas e suas cartas datilografadas sem acento. Uma alegria de deitar na grama e sentir que está molhada e não se importar com a roupa orvalhada e não se importar com a hora e com os modos, uma alegria que é inocência, mas sem culpa para acabá-la. Uma alegria que é descobrir os objetos no escuro. Uma alegria repentina, que me faz entortar o rosto para rir, que não me faz pôr a mão na boca com medo dos dentes, que me impede de me proteger. Uma alegria como um tapete que fica somente curtido no centro. Uma alegria de ficar com pena dos anjos e de suas asas pesadas como duas montanhas nas costas, suas asas como dois irmãos brigando em dia de chuva. Uma alegria de barca, que é empurrada ao seu início. Uma alegria de perceber que quanto mais gasto o tempo com os outros mais sobra para mim. Alegria de vida barata e da morte cara. Uma alegria sem saber para que serve, para onde vai, com as iniciais de xícara antiga. Uma alegria que não volta para a estante porque não saiu de nenhum livro lido. Uma alegria que se antecipa e faz sala ao quarto. E quase me faz acreditar que sou possível.

Fabrício Carpinejar
imagem-deviantart.com

sábado, 19 de junho de 2010

no colo do anjo



Empoleirado na torre do meu sonho, um anjo resplandece.
Cílios cintilantes ,estrelas nos olhos ,ele me acena
com plumas e me abraça com asas.Juntos vagamos
entre rastros de astrosa cavalgar nuvens por planícies
etéreas até que me sinto serena.É como se mudo dissera
não temas véus ou névoas qualquer neblina passa.
Mas eis que então fala:Não sejas cega, menina.
O olhar de Deus tudo abarca.Só os homens têm pálpebras.

Astrid Cabral
imagem-deviantart.com

regressar sem partir



Também se pode regressar sem partir.
Não são apenas os relógios que se atrasam,
às vezes é o próprio tempo. E todos
os cuidados são então necessários.
Há sempre um comboio que rola
a nosso lado sem luzes e sem freios.
E pode faltar-nos o estribo ou já
não haver lugar na carruagem da frente.

Albano Martins
arte de Duy Huynh

... se não te interessa



Nunca diga TE AMO se não te interessa.
Nunca fale sobre sentimentos se estes não existem.
Nunca toque numa vida se não pretende romper um coração.
Nunca olhe nos olhos de alguém se não quiser vê-lo
se derramar em lágrimas por causa de ti.
A coisa mais cruel que alguém pode fazer
é permitir que alguém se apaixone por você
quando você não pretende fazer o mesmo.

Mario Quintana
arte de Miriana

sexta-feira, 18 de junho de 2010

consciência do disfarce



Sonhei-te lentamente,
em plena consciência do disfarce.
Sabia-te irreal,
mas o sonho restava devagar.
Com pormenores tão lentos
que o tempo me sobrava de pensar.
Sentei-me ao pé de ti,
junto ao meu sonho, e pude ler indícios,
os símbolos que queria
estavam lá. Sonhei-te porque sim:
a confusão existe no real.

Ana Luísa Amaral
imagem-deviantart.com

quinta-feira, 17 de junho de 2010

amor com tremor...



Amor com tremor de terra
abalando montanhas e minérios
nas entranhas da minha carne.
Amor como relâmpago e sóis
inaugurando auroras
ou ateando faíscas e incêndios
nas trevas da minha noite.
Amor como açudes sangrando
ou caudais e tempestades
despencando dilúvios.
E não me falem de ruínas
nem de cinzas, nem de lama.

Astrid Cabral

o peso dos livros



Pensava que os livros não têm peso. Quero dizer, flutuam
no entendimento.Na memória. Ou melhor:
equilibram-se porque não são gente.
Não têm noites, não têm insónias. Não têm sono lá dentro.

Pensava que os livros são menos complexos do que nós.
Mesmo quando não temos linha, quando não temos palavra.
Mesmo quando não conseguimos respirar. Quando pensei nisso,
tive uma vaga noção de título.
E um hálito branco a querer ser página

[Filipa Leal-o problema de ser norte]

só uma canção...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

diz-me


imagem - Raluca Deca

que a vida...



Que a vida te seja suportável.
Que a culpa não afogue a esperança.
Que não te rendas nunca.
Que o caminho que segues seja sempre escolhido
entre dois pelo menos.
Que te importe a vida tanto como tu a ela.
Que não te agarre o vício
de prolongar as despedidas.
Que o peso da terra seja leve
sobre os teus pobres ossos.
Que a tua recordação traga lágrimas aos olhos
de quem nunca te disse que te amava.

Amalia Bautista
imagem - Joan Kocac

as palavras...



São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam;
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Eugénio de Andrade
imagem-deviantart.com by bradwilde

pousei as minhas mãos...



Pousei as minhas mãos num rosto e retirei-as feridas pelo amor.
Agora,
o esquecimento acaricia as minhas mãos.

Antonio Gamoneda
imagem - arte de Vladimir Dunjic

uma fria paixão



Uma fria paixão endurece minhas lágrimas.
Pesam as pedras em meus olhos: alguém
me destrói ou me ama.

Antonio Gamoneda

sábado, 12 de junho de 2010

teoria do amor

deste lugar do coração



tacteante do essencial. medida breve do tempo onde o mínimo é máximo e o profundo um lento e íntimo respirar. instrumento do imedível. iludência das ideias e tormentoso segredo. assim se é fábula e prólogo._______ maliciosa a nostalgia do indesvendável músculo que nos amadurece e é espelho.
______e o tempo é renda...sim. deste lado do coração....invade.Me.

Isabel Mendes Ferreira

quinta-feira, 10 de junho de 2010

morrer de amor

nós somos loucos,não somos?



Nós somos loucos, não somos?
Desta louca poesia,
Desta riqueza dos pobres
Que se chama fantasia!

Ergamos pois nossa tenda
E nosso lar de pobreza
No mais ermo desses montes,
No fundo da natureza.

Se o frio apertar connosco,
Pois não temos mais calores,
Aqueceremos os membros
Na fogueira dos amores!

Se for grande a nossa sede,
Tão longe da fonte fria,
Contentar-nos-emos, filha,
Com as águas da poesia!

Assim à nossa pobreza
Daremos a Imensidade...
Que com isto se contente
Nossa pouca seriedade.

E, pois somos loucos, vamos
Atrás dos loucos mistérios...
Deixemos ricas cidades
Ao sério dos homens sérios!

Antero de Quental
imagem - Joan Kocak

quarta-feira, 9 de junho de 2010

absolvendo o amor



[...]"Uma mulher infeliz por ter amor de menos, outra infeliz por ter amor demais, e o amor injustamente crucificado por ambas. Coitado do amor, é sempre acusado de provocar dor, quando deveria ser reverenciado simplesmente por ter acontecido em nossa vida, mesmo que sua passagem tenha sido breve. E se não foi, se permaneceu em nossa vida, aí é o luxo supremo. Qualquer amor - até aqueles que a gente inventa - merece nossa total indulgência, porque quem costuma estragar tudo, caríssimos, não é ele, somos nós."


"Nada há que se faça senão esperar que o amor regresse
ao nosso corpo e nos rapte para uma outra partida."

para saudar o dia



" Se os pássaros sobrevoam as palavras
para saudar o dia, é porque há festa
nos olhos de quem nasce quantas vezes é preciso.
Quase se adivinha um tempo de lembranças
como um pretexto, uma fuga, um alibi
para escapar à fadiga dos sonhos minguados.
É então que os amigos trazem afectos
que o tempo não corrompe
e o vento se torna solidário das manhãs
por onde se regressa à infância. "

Graça Pires
imagem-RamonaG

nunca saberemos



"Nunca saberemos se os enganados
são os sentidos ou os sentimentos,
se viaja o comboio ou a nossa vontade
se as cidades mudam de lugar
ou se todas as casas são a mesma.
Nunca saberemos se quem nos espera
é quem nos deve esperar, nem sequer
quem temos de aguardar no meio
de um cais frio. Não sabemos nada.
Avançamos às cegas e duvidamos
se isto que se parece com a alegria
é só o sinal definitivo
de que nos voltámos a enganar."

terça-feira, 8 de junho de 2010

escutando chuva




"Eu estou escutando [...]o som conhecido da chuva caindo,
e rezando para que todas as esperanças sejam encontradas...
- Chuva chuva não vá, o sol pode voltar outro dia"
Rain-Priscilla Ahn

segunda-feira, 7 de junho de 2010

não,as palavras



não,
as palavras
não fazem amor
fazem ausência
Se digo água, beberei ?
Se digo pão, comerei ?

Alejandra Pizarnik
imagem-Joan Kocak

nenhuma escada



"todos os relógios
estavam do teu lado

eu só tinha a minha torre
de espelhos
só tinha a noite
e o silêncio

e nenhuma escada"

podíamos saber um pouco mais...



Podíamos saber um pouco mais da morte.
Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.

Podíamos saber um pouco mais da vida.
Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais do amor.
Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.

passeando as lembranças



Ontem à tarde saí.
Queria passear as lembranças
que um dia de chuva faz crescer em nós.
Há dias que o vento rondava a casa
cheio de segredos incompletos a roçar-me a orelha.
E eu não resisto ao sabor do vento
e a uma boa história para enganar o frio.
É fácil perdermo-nos nas ruas.
Nunca se regressa pelos mesmos caminhos
mas todos parecem iguais
com o cheiro da chuva a deixar o alcatrão
e a subir na memória de outras ruas.
Mas há só um caminho que trilhamos. O corpo
é uma bússola fiel que segue pela estrada
enquanto o pó se levanta
muito para além dos nossos passos.

Rosa Alice Branco

domingo, 6 de junho de 2010

ao fim...



"Ao fim são muito poucas as palavras que nos doem a sério
e muito poucas as que conseguem alegrar a alma.
São também muito poucas as pessoas que tocam o nosso coração
e menos ainda as que o tocam muito tempo.
E ao fim são pouquíssimas as coisas que em nossa vida
a sério nos importam: poder amar alguém, sermos amados
e não morrer depois dos nossos filhos."

agora um deus dança em mim



"Creio que aqueles que mais entendem de felicidade
são as borboletas e as bolhas de sabão...
Ver girar essas pequenas almas leves, loucas, graciosas
e que se movem é o que,de mim, arrancam lágrimas e canções.
Eu só poderia ACREDITAR em um Deus que soubesse DANÇAR.
E quando vi meu demônio, pareceu-me sério, grave, profundo,
solene.Era o espírito da gravidade. Ele é que faz cair todas as coisas.
Não é com ira, mas com riso que se mata. Coragem!
Vamos matar o espírito da gravidade!
Eu aprendi a andar. Desde então, passei por mim a correr.
Eu aprendi a voar. Desde então, não quero que me empurrem
para mudar de lugar.
Agora sou leve, agora vôo, agora vejo por baixo de mim mesmo,
AGORA UM DEUS DANÇA EM MIM!"
Friedrich Nietzsche

sábado, 5 de junho de 2010

por vezes



" por vezes, a distância que me separa das minhas mãos,
é um rio de margens afastadas.
as palavras procuram-me e chegam a pousar na minha boca,
uma ou outra noite,mas quase sempre se perdem na água
que transborda este imenso rio
que vai já com trinta e dois metros de profundidade

É POUCA ÁGUA PARA TANTA SEDE "

alice macedo campos
imagem-photonet.com

sexta-feira, 4 de junho de 2010

era uma vez...



"Era uma vez
uma mulher que
via um futuro grandioso
para cada homem
que a tocava.
Um dia
ela se tocou"

animação romântica :D

tranquilidade na tarde



"Ah, derramar-me líquida sobre o mar
– ser onda indefinidamente –
esperar pela primeira estrela
e dela ser apenas
espelho."

Olga Savary-
A Liene T. Eiten

liberdade

quinta-feira, 3 de junho de 2010

nada vai mudar meu mundo




As palavras estão se derramando como uma chuva sem fim num copo de papel
Elas escorregam enquanto passam, escorrem através do universo
Lagos de tristeza, ondas de alegria estão vagueando pela minha mente aberta
Me possuindo e me acariciando

Glória ao mestre
Nada vai mudar meu mundo
Nada vai mudar meu mundo
Imagens de uma luz quebrada que dançam ante mim como um milhão de olhos

Que me chamam repetidamente através do universo
Pensamentos divagam como um vento sem rumo dentro de uma caixa de correspondências
Eles caem cegamente enquanto fazem seus caminhos
Através do universo
Glória ao mestre...

Sons de risada, sombras da terra estão soando
Por minhas vistas abertas convidando e excitando-me
Amor imortal sem limite, que brilha ao meu redor como
Um milhão de sóis, ele (o amor) me chama repetidamente
Através do universo
Glória ao mestre...

traduçao Across The Universe-Beatles
voz-Fiona Apple

quarta-feira, 2 de junho de 2010