terça-feira, 29 de novembro de 2011

as lições



"Ensinaram-me a falar
aprendi a escrever.
Ensinaram-me a escrever
aprendi a falar.
Ensinaram-me a ler
aprendi a ver.
Ensinaram-me a ouvir
aprendi a calar.
Ensinaram-me a pedir
aprendi a dar.
Ensinaram-me a comprar
aprendi a ter.
Ensinaram-me a beber
aprendi a rir.
Ensinaram-me a fugir
aprendi a ficar.
Ensinaram-me a aprender
aprendi a ignorar.
Ensinaram-me a amar
aprendi a criar.
Ensinaram-me a viver
aprendi a morrer.
Ensinaram-me a estar só
aprendi a estar.
Ensinaram-me a ser livre
aprendi a ser."

Ana Hatherly

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

reflexão





"Amar não acaba.
É como se o mundo estivesse à minha espera.
E eu vou ao encontro do que me espera."

Clarice Lispector



"construíste a tua casa
emplumaste os teus pássaros
golpeaste o vento
com os teus próprios ossos

acabaste sozinha
o que ninguém começou"

Alejandra Pizarnik

Os tempos



"Os tempos mudam na mudança dos tempos
Só a mudança faz-nos crer que são outros tempos
Os tempos vão e não voltam mais
Uns ficam com o tempo, e não voltam
Outros ficam no tempo que não volta
Os tempos trazem mudanças para quem quer mudar
Só terá novos tempos quando se mudam os velhos tempos"

Japone Arijuane
(Maputo,Moçambique)

http://revistaliteratas.blogspot.com/

sábado, 19 de novembro de 2011



"nunca poderia crer
numa nova delicadeza.

e não é que ela existe ?

há sempre gestos
que desconhecemos."

Silvia Chueire

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Auto-quotidiano




"Há vezes que a tristeza faz me muito feliz
Quando triste lembro a felicidade vivida
Nunca da tristeza que vivo.
Felicidade é bem compreendida quando se esta triste
Minha vida é o lado feliz da tristeza "

Jopone Arijuane
( Moçambique )


Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projecções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhámos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixámos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente connosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Lua de Papel



"Se eu cantasse o amor sem resultado ou causa,
seria mais sensata: chegava-me uma lua de papel,
um par de braços lisos, conformados

Se eu cantasse o amor sem causa ou resultado,
tinha muito mais paz: fingida em luas-cheias,
seria mais sensata e decerto poeta bem melhor

Assim o que me resta é lua cheia a trans-
bordar de tridimensional. A paz a falhar toda
e eu resolvida em causa a insistir papel.

E amor. "

Ana Luísa Amaral

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

silêncio amoroso




"Preciso do teu silêncio
cúmplice
sobre minhas falhas.
Não fale.
Um sopro, a menor vogal
pode me desamparar.
E se eu abrir a boca
minha alma vai rachar.
O silêncio, aprendo,
pode construir. É um modo
denso/tenso
- de coexistir.
Calar, às vezes,
é fina forma de amar."

domingo, 13 de novembro de 2011



"Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen"

Natália Correia

quarta-feira, 9 de novembro de 2011



"Quando conseguiu enxugar a mágoa,
a vida voltou a fluir.

Que mágoa é água que não leva.
Que mágoa é água que não lava.
Que mágoa é água estagnada."

Ana Jácomo - Limo

quarta-feira, 2 de novembro de 2011



"Temos asas viradas para dentro
ninguém é só bom ou ruim

pensem o que pensem
assim somos

mestiços de anjo
e demônio"

Líria Porto



"Fica
é a mais bonita das palavras desesperadas."

Pedro Jordão


a verdade

tem um jeito justo
de dizer as coisas
tudo assim - na lata

de tão diminuto
um segundo basta
e não se discute


(amo-te)

Líria Porto