sábado, 26 de fevereiro de 2011

...como aqueles que amam.



"Costuro o infinito sobre o peito.
E no entanto sou água fugidia e amarga.
E sou crível e antiga como aquilo que vês:

Pedras, frontões no todo inamovível.

Terrena, me adivinho montanha algumas vezes.
Recente, inumana, inexprimível
Costuro o infinito sobre o peito.
Como aqueles que amam..."

Milagre...



Viemos da água, somos água, e só seremos terra, pó, quando secarmos. Cabe-nos não nos deixarmos minguar, secar, antes que o fio do tempo nos dite a morte. Compete-nos abrir as comportas da água interior, soltar o sangue, o sonho, libertar o coração:

"Milagre é o rio não findar mais.

Milagre é o coração começar sempre no peito de outra vida".

Mia Couto

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

o poema



...
Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa
[condição de poema.
Triste
Solitário
Único
Ferido de mortal beleza.

Mario Quintana - O aprendiz de feiticeiro

uma face



"tenho os olhos cansados
de compreender
em que ponta de pedra
se equilibra a razão.
...
a lua amanhã não estará cheia
e a noite será mais profunda.
todas as coisas têm mais de uma face
MENOS A SAUDADE.

Silvia Chueire

o segredo



" O segredo está no amor,
é evidente,
mas também em sabermos
afastar do nosso convívio
o que não presta.
Só quem se libertou
do medíocre e do vazio
poderá ser feliz."


Torquato da Luz

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011



"Que o beijo que se dá sobre os lábios se sinta também
na alma e permaneça no fundo do coração."


Lady Antebellum - Can't take my eyes off you

sinfonia das nuvens



" eu acho que te amo, disse.
como se o AMOR,
o VERDADEIRO AMOR,
admitisse
algum tipo de dúvida."

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011



"Be my friend
Hold me, wrap me up
Unfold me
I am small
I'm needy
Warm me up
And breathe me"

Breathe Me - Sia


Falta-me tanto tempo neste tempo inteiro
onde não vivo mas finjo mas
iludo e às vezes rio.
tenho tanto tempo
neste limite de um outro tempo
que não chego a deter
minha agonia. minha raiva.
meu desassossego inquieto e lúcido
frio e tépido. meu desencanto persistente
frígido e céptico de ser apenas
um momento.

Isabel Mendes Ferreira



"Quantas vezes esvaziei
os pulmões por entre as
mãos fechadas, numa
incursão obsessiva pelas
minhas características
de voo,

CONFESSO-O AO VENTO
QUE VEM PARA SE COBRAR."

Valter Hugo Mãe


" há um tempo que espera
que eu o queira enquanto hesito
turbulento esse que me retém

eu fora dele
à espera do desejo "

Ana Viana


" Reclusa retomo sempre
e sempre reinvento
o meu nada absoluto

A quem de mim própria
o que de mim oculto."

Maria Teresa Horta - Culto
imagem deviantart.com

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011



O segredo é amar. Amar a Vida
com tudo o que há de bom e mau em nós.
Amar a hora breve e apetecida,
ouvir os sons em cada voz
e ver todos os céus em cada olhar.

Amar por mil razões e sem razão.
Amar, só por amar,
com os nervos, o sangue, o coração.
Viver em cada instante a eternidade
e ver, na própria sombra, claridade.

O segredo é amar, mas amar com prazer,
sem limites, fronteiras, horizonte.
Beber em cada fonte,
florir em cada flor,
nascer em cada ninho,
sorver a terra inteira como o vinho.

Amar o ramo em flor que há-de nascer,
de cada obscura, tímida raiz.
Amar em cada pedra, em cada ser,
S. Francisco de Assis.

Amar o tronco, a folha verde,
amar cada alegria, cada mágoa,
pois um beijo de amor jamais se perde
e cedo refloresce em pão, em água!

Fernanda de Castro - O segredo é amar
imagem - arte de duy huynh



Os Anos são degraus, a Vida a escada.
Longa ou curta, só Deus pode medi-la.
E a Porta, a grande Porta desejada,
só Deus pode fechá-la,
pode abri-la.

São vários os degraus; alguns sombrios,
outros ao sol, na plena luz dos astros,
com asas de anjos, harpas celestiais.
Alguns, quilhas e mastros
nas mãos dos vendavais.

Mas tudo são degraus; tudo é fugir
à humana condição.
Degrau após degrau,
tudo é lenta ascensão.

Senhor, como é possível a descrença,
imaginar, sequer, que ao fim da Estrada,
se encontre após esta ansiedade imensa
uma porta fechada
e mais nada?


Fernanda de Castro - Asa do Espaço

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011



" Quero escrever movimento puro." [Clarice Lispector]


" o tamanho impensável das flores
prende-me ao chão

e não serve de nada encontrar um lugar
onde possa ser outra coisa qualquer "

Sandra Costa - o tamanho impensável das flores



" hoje, crescem em mim coisas simples:
a urze do monte, as vindimas da infância,
as sombras das árvores, o teu rosto na luz
do verão, a noite mais cedo e um ou dois
poemas inacabados "

Sandra Costa

desapego



"O desapego é a faxina
do corpo."


Eu invejo os passarinhos,
todos os passarinhos que se vão para o sul.
Eles não levam bagagem, amores, provisões,
fantasias, saudades.
Apenas cismam e se vão.
Eu, no inverno álgido, fico por aqui mesmo,
jamais pensei em ir para o sul.
Quanta coisa teria que levar!
Os passarinhos, esses, não são materialistas,
deixam tudo o que conquistaram e se esvaem.
Aprenderam o desapego das coisas.
No máximo, carregam algumas plumas felizes
e nos deixam a incrível lição do desejo.


Angel Cabeza - Transcendência

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

"... a luz é o que, sem se ver, faz ver e não se pode agarrar com os dedos de todas as mãos..."

Pedro Paixão



Recomecemos então, as mãos palma com palma.
...
Assim palma com palma,
DE MÃOS DADAS ?


Eugénio de Andrade

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011



"Quem disse que os lábios eram puros ?
Puros são os beijos que damos sem querer nos lábios
que já esquecemos."

Isabel Mendes Ferreira


"é tão breve o silêncio quando dizer mais era urgente,
tão frágil o fogo das mãos sobre a pele,
tão lúcido o pensamento quando dizer tudo é pouco."

Isabel Mendes Ferreira

domingo, 6 de fevereiro de 2011



" Um louco se consome pela escrita.
Mas há um generoso que o lê
E lhe dá vida."

Pepetela

dúvida

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011



Antes que o sonho( ou o terror) tecesse
mitologias e cosmogonias,
antes que o tempo se cunhasse em dias,
o mar, O SEMPRE MAR, já estava e era.
Quem é o mar? Quem é o violento
antigo ser que corrói os pilares
da Terra e é um mar e muitos outros
e abismo e resplendor e acaso e vento ?
Quem o olha o vê pela primeira
vez, sempre. Com o assombro que as coisas
elementares deixam, as formosas
tardes, a lua, o fogo, uma fogueira.
QUEM É O MAR ? QUEM SOU EU ?
Só saberei no dia ulterior ao da agonia.


Jorge Luis Borges in o outro, o mesmo


" Dormir, sim,
quando o silêncio dói.
Mas nunca se dorme quando
o amor é uma insónia.
NINGUÉM AMA DE OLHOS FECHADOS."

Albano Martins

Depois de quarenta anos
virar para o lado direito da cama
e ver uma outra pessoa
que não aquela conhecida.
Caminhar até o espelho
e reconhecer um outro rosto.
E não há mais nada a fazer
a não ser sorrir.
Todos serão sempre outros
sendo os mesmos.
E isso talvez seja o mais interessante
– TOLERAR ESTRANHOS CONHECIDOS.


Angel Cabeza - estranhos conhecidos -

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011



" A ilusão é um sonho
que deixou de acontecer
e ainda está sonhando."


Angel Cabeza - Ilusionista

Antítese da verdade

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011



"Se te perguntarem por nós, sobre
que coisa fazemos quando estamos
juntos, diz a verdade

que deslocamos os cometas sem
querer, as estrelas para desenhos e
a lua garantindo o amor..."


Valter Hugo Mãe
Imagem - arte de ddiarte