quarta-feira, 29 de junho de 2011



É mais fácil partir quando o silêncio
transpõe a tua voz.
Mais simples celebrar a tão efémera
certeza de estares vivo.

A música do ar esvai-se nas sombras,
tu sabes que é assim,
que os dias correm céleres, não tentes
perseguir o seu rasto - repara
como em abril as aves são felizes.

Sê como elas: não perguntes nada,
deixa que o sol responda à flor da tarde
e esquece-te do mundo.

Fernando Pinto do Amaral

quarta-feira, 22 de junho de 2011

canção de mágoa


...
vai-se o tempo e nós aqui
adormecidos no cais
entretidos com o medo
de já ser tarde demais...

Vieira da Silva

ai daqueles...



ai daqueles
que se amaram sem
nenhuma briga
aqueles que deixaram que a mágoa nova
virasse chaga antiga

ai daqueles que se amaram
sem saber que AMAR É FEITO PÃO EM CASA
e que a PEDRA SÓ NÃO VOA
PORQUE NÃO QUER
NÃO POR QUE NÃO TEM ASA.

Paulo Leminski

A única verdade


vídeo - Dito por Sara Felício, no blogue de Edições Artefacto


crônica falada



Sobre amar a si mesmo e o medo(criado)de que isso seja egoísmo;
uma coisa feia:

" A gente têm que lavar essa história que egoísmo é uma coisa feia.
Egoísmo é uma obrigação."

Cínthya Verri


http://boucheville.blogspot.com/............Adorei !!

sábado, 18 de junho de 2011

minha covardia



"na arrumação dos armários,
encontro minha covardia:

UMA GAVETA DE CARTAS INTERROMPIDAS."

Eduardo Baszczyn

sexta-feira, 17 de junho de 2011



"Algumas pessoas deveriam escolher
o que querem ser na nossa vida:

ancora ou asas ? "


" Os meus olhos nos teus
os teus olhos nos meus

e mais ninguém junto a nós,
nem deus "

Vieira da Silva - beijo


" gostar é tão redundantemente pequeno
como amar é redundantemente infinito
a sentir
sem medir "

Pedro F. Lopes


There comes a time in every little girl's life
When her momma says,
Girl, do your best...

máscaras



" quantos sorrisos
quantos esgares
quantos risos
quantos olhares
da alma a janela
da alma a face
da alma a carne
da alma a tarde "

Pedro F. Lopes


"o raio de luz entrou
sem pedir licença
e a sombra iluminou-se"

Pedro F. Lopes


No ruído do meu silêncio
não me perco,
traço pontos entre linhas imaginárias,
os pontos reais,
os pensamentos incorpóreos,
e entre um ponto e outro
anoto as variantes de silêncio que percebo:
o silêncio do vento parado,
o silêncio do ar respirado,
o silêncio do meu coração,
o silêncio da minha alma.

Pedro Faria Lopes

quarta-feira, 15 de junho de 2011



"O amor cerra os olhos, não para ver, mas para absorver:

a obscura transparência, a espessura das sombras ligeiras, a ondulação ardente: A ALEGRIA. Um cavalo corre na lenta velocidade das artérias. O amor conhece-se sobre a terra coroada: animal das águas, animal do fogo, animal do ar: a matéria é só uma,terrestre e divina.

António Ramos Rosa

sábado, 11 de junho de 2011



" a gaveta da alegria
já está cheia
de ficar vazia."

Alice Ruiz


All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

mudança



"Quando nos dedicamos, com o coração, à busca do autoconhecimento, é inevitável que chegue um instante em que algumas mentiras que contávamos para nós mesmos passem a não funcionar mais. Os disfarces até então utilizados para fortalecer o nosso autoengano já não nos servem. Inábeis com a paisagem aos poucos revelada, às vezes ainda tentamos nos apegar a alguma coisa que possa encobrir a nossa lucidez, embaraçados que costumamos ser com as novidades, por mais libertadoras que sejam. É em vão. Impossível devolver a linha ao novelo depois que a consciência já teceu novos caminhos. Existem portas que se desmancham após serem atravessadas, como sonhos que se dissolvem ao acordarmos. Não há como retornar ao lugar onde a nossa vida dormia antes de cruzá-las. Da estreiteza à expansão. Da semente à flor. Do casulo às asas, nos ensinam as borboletas."

Ana Jácomo

terça-feira, 7 de junho de 2011

quantas vezes assassinei o amor ?




"O amor nunca morre de morte natural. Añais Nin estava certa.
Morre porque o matamos ou o deixamos morrer.
Morre envenenado pela angústia. Morre enforcado pelo abraço. Morre esfaqueado pelas costas. Morre eletrocutado pela sinceridade. Morre atropelado pela grosseria. Morre sufocado pela desavença.
Mortes patéticas, cruéis, sem obituário e missa de sétimo dia.
Mortes sem sangramento. Lavadas. Com os ossos e as lembranças deslocados.
O amor não morre de velhice, em paz com a cama e com a fortuna dos dedos.
Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno. Uma indiferença. Uma conversa surda. Morre porque queremos que morra. Decidimos que ele está morto. Facilitamos seu estremecimento.
O amor não poderia morrer, ele não tem fim. Nós que criamos a despedida por não suportar sua longevidade. Por invejar que ele seja maior do que a nossa vida.
O fim do amor não será suicídio. O amor é sempre homicídio. A boca estará estranhamente carregada.
Repassei os olhos pelos meus namoros e casamentos. Permiti que o amor morresse. Eu o vi indo para o mar de noite e não socorri. Eu vi que ele poderia escorregar dos andares da memória e não apressei o corrimão. Não avisei o amor no primeiro sinal de fraqueza. No primeiro acidente. Aceitei que desmoronasse, não levantei as ruínas sobre o passado. Fui orgulhoso e não me arrependi. Meu orgulho não salvou ninguém. O orgulho não salva, o orgulho coleciona mortos.
No mínimo, merecia ser incriminado por omissão.
Mas talvez eu tenha matado meus amores. Seja um serial killer. Perigoso, silencioso, como todos os amantes, com aparência inofensiva de balconista. Fiz da dor uma alegria quando não restava alegria.
Mato; não confesso e repito os rituais. Escondo o corpo dela em meu próprio corpo. Durmo suando frio e disfarço que foi um pesadelo. Desfaço as pistas e suspeitas assim que termino o relacionamento. Queimo o que fui. E recomeço, com a certeza de que não houve testemunhas.
Mato porque não tolero o contraponto. A divergência. Mato porque ela conheceu meu lado escuro e estou envergonhado. Mato e mudo de personalidade, ao invés de conviver com minhas personalidades inacabadas e falhas.
Mato porque aguardava o elogio e recebia de volta a verdade.
O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas. O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias sem recuar. O amor é a boca suja. O amor repetirá na cozinha o que foi contado em segredo no quarto. O amor vai abrir o assoalho, o porão proibido, fazer faxina em sua casa. Colocar fora o que precisava, reintegrar ao armário o que temia rever.
O amor é sempre assassinado. Para confiarmos a nossa vida para outra pessoa, devemos saber o que fizemos antes com ela. "

Fabrício Carpinejar

pra quem tem olhos que escutam



ILUSÃO:

" um lugar de areia movediça pra alma,
onde a gente pisa jurando que é jardim. "

Ana Jácomo

domingo, 5 de junho de 2011




What I really wanna know, my baby, oooh
What I really wanna say is there's just one
Way back and I'll make it, yeah
Well, my soul will have to wait...


"A alma é invisível,
um anjo é invisível,
o vento é invisível,
o pensamento é invisível,
e, no entanto, com delicadeza,
se pode enxergar a alma,
se pode adivinhar o anjo,
se pode sentir o vento,
Se pode mudar o mundo com alguns pensamentos"...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Bravo !



"Quando conhecer sua alma, pintarei seus olhos."



Amedeo Modigliani


" Os olhos do amado
Esqueceram-se nos teus
Perdidos em sonhos."

Helena Kolody - FELICIDADE

quinta-feira, 2 de junho de 2011

lembranças




Chorar pelos vivos que falecem
é natural — coisa lacrimal.
A carne sente a falta do costume
às tantas... tem fome.
Não choro ninguém.

Quando digo chorar é outra pressa
de chegar a tempo
da conversa atenta com um amigo
que nos quer bem.

Chorar por ninguém é chorar pelos vivos
que já morreram, sem o saber,
e vivem no seu presídio.

O resto, repito, é fisiologia
provocada, e ainda bem, pelo riso,
ou pela dor que temos de já ter nascido
e sermos chorados por alguém.

Ruy Cinatti

este mudar-se a cada dia



Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Camões