terça-feira, 24 de novembro de 2009

A Paz

Se eu te pedisse a paz, o que me darias
pequeno insecto da memória de quem sou
ninho e alimento? Se eu te pedisse a paz,
a pedra do silêncio cobrindo-me de pó,
a voz limpa dos frutos, o que me darias
respiração pausada de outro corpo
sob o meu corpo?

Perdoa-me ser tão só,
e falar-te ainda do meu exílio.
Perdoa-me se não te peço a paz.
Apenas pergunto: o que me darias
em troca se te pedisse?
O sol? A sabedoria?
Um cavalo de olhos verdes?
Um campo de batalha para nele
gravar o teu nome junto ao meu?
Ou apenas uma faca de fogo, intranquila,
no centro do coração?

Nada te peço, nada.
Visito, simplesmente,o teu corpo de cinza.
Falo de mim, entrego-te o meu destino.
E a morte vivo só de perguntar-te:
O que me darias se te pedisse a paz
e soubesses de como a quero construída
com as matérias vivas da liberdade?

Casimiro de Brito,
in Jardins de Guerra

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