domingo, 29 de agosto de 2010
... verdades e amores imensos
sábado, 28 de agosto de 2010
pequenos vícios

"Coisas que não passam.
Há quem diga que dentro da cabeça, eu não sei onde.
Coisas que de vez em quando voltam e por isso,
só por isso, se sabe que não passam. Coisas que nos agarram por
detrás da nuca, frente a um espelho, sem qualquer propósito,
e só nos deixam sem querermos. Pequenos rogos, doces chamamentos,
partidas muitas, asperezas, ciúmes, vícios, abraços ternos,
despedidas, raivas, tédios, pequenos espantos, sobressaltos.
Coisas que não passam,
há quem diga que dentro da cabeça.Eu não sei onde."
Pedro Paixão
imagem - Photobucket
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
música branca

" Todas as histórias
têm a sua própria música
Esta tem
uma música branca.
É importante dizê-lo
porque a música branca
é uma música estranha.
Às vezes
desconcertante
toca-se baixinho
e dança-se devagar.
Quando bem tocada,
é como ouvir tocar o silêncio
e os que a dançam
como deuses
parecem imóveis ao olhar.
É algo sobremodo difícil,
a música branca. "
Alessandro Baricco - Seda
imagem - deviantart.com
tristeza que faz lembrar

" Há em teus olhos, dados ao momento,
uma tristeza de água reprimida,
que é como o pressentimento
duma próxima despedida.
Tristeza que faz lembrar
dias perdidos de outono
com luz pálida a incidir
nas folhas mortas de sono.
Deixa que a esperança os molhe,
os inunde de alegria.
Cada noite passa e colhe
o gosto dum novo dia. "
Albano Martins - Secura Verde
imagem - Calisto
desculpa,me esqueci...pensar é coisa para vadio

" Na minha infância, os brinquedos não eram maiores do que a imaginação: pião, cinco marias, pipa, bola, amarelinha. Feitos de madeira, barbante, couro, pedra e pano, simples como a voz que chamava ao portão. Com um impulso, a criança inventava o resto. Armado de uma tampa de lixo e de um galho, o piá se transformava em guerreiro medieval. Percebo que os adultos estão com brinquedos maiores do que sua imaginação, se julgam importantes porque não desfrutam de um minuto para pensar.
Desculpa, me esqueci, PENSAR É COISA PARA VADIO . "
Fabrício Carpinejar
imagem - A. madestra W.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
reflexão

tem o amor causa; se amo,
para que me amem, tem fruto:
e amor fino não há de ter porquê,
nem para quê.
Se amo, porque me amam,
é obrigação, faço o que devo;
se amo, para que me amem,
é negociação, busco o que desejo.
Pois como há de amar o amor
para ser fino ?
Amo, quia amo, amo, ut amem:
amo, porque amo, e amo para amar.
Quem ama porque o amam, é agradecido;
quem ama, para que o amem, é interesseiro;
quem ama, não porque o amam,
nem para que o amem, esse só é fino."
Antônio Vieira
imagem-Duy Huynh
dois grandes amores

aquele que amo e aquele que
não amo. Um sustenta-se da
existência do outro. O amado
tem zelos daquele que não
amo, em guarda, à espreita.
E o não amado dá guarida
à intensidade do outro em mim.
E me alivia do tumulto do vinho
nas vides, com olhos de musgo. "
Maria Carpi -
A Força de não ter Força
imagem - Duy Huynh
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
aprender a olhar

" Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim."
Cecília Meireles
imagem - deviantart.com
terça-feira, 24 de agosto de 2010
tranquila...

Tranqüila
Levo a vida tranqüila
Não tenho medo do mundo
Não vou me preocupar
Tranqüila
Levo a vida tranqüila
Não tenho medo da morte
Não vou me preocupar
Que passe por mim a doença
Que passe por mim a pobreza
Que passe por mim a maldade, a mentira e a falta de crença
Que passe por mim olho grande
Que passe por mim a má sorte
Que passe por mim a inveja, a discórdia e a ignorância
Tranqüila
Levo a vida tranqüila
Que me passe
A doença que me passe
A pobreza que me passe
A maldade que me passe
Olho grande que me passe
A má sorte que me passe
A inveja que me passe
A tristeza da guerra
Tranqüila
Levo a vida tranqüila
Thalma de Freitas - Tranquilo
cristais de saudade

De nós nada se perdeu
pois transformei tua ausencia em melodia
e as horas passam.
Mas se a dor se espalha
raspo um tacho de saudade
quando o pranto se transforma
em cristais de poesia e os dias passam...
Perpetuo meu amor cristalizado
nas gotas da esperança
de um dia te encontrar
e abrando o tempo
com a lembrança
de teu sorriso
iluminado.
Lígia Saavedra
música : Lígia Saavedra - Além dos Muros
imagem - deviantart.com
( Muito obrigado Lígia ...)
ainda acredito no amor...e desconfio da morte
Quem se ama ,não mata.

Rasgo a lembrança em pétalas
para não apagar o amor,
Mas a chama do ciúme
queima-me o pensamento
corrói a alma
revejo a cena infiel entre labaredas
e tento destruí-la.
Ah! O ciúme...
Sentimento que me transmuta os conceitos
lambendo com ódio a tua imagem
dantes tão adorada
Farejo perigo
quero gritar
correr
morder
bater
ferir e até morrer.
Leva-me ciúme!
Zelo excessivo que agora me cega a alma.
Leva-me ciúme!
Meu ato insano há de ser perdoado
a-mor-te-a-paga-a-dor.Será?
No auge da insensata atitude
Rio de ti.
Rio de mim.
Gargalho da vida.
Gargalho da sorte.
Sinto-me entre o trágico e o funesto.
Uma brisa de lucidez sacode-me o senso
Transcendendo a fúria.
E te esbofeteio com o meu
mais mortal
e silencioso:
"Adeus!"
QUEM SE AMA, NÃO MATA.
LÍGIA SAAVEDRA
domingo, 22 de agosto de 2010
sábado, 21 de agosto de 2010
encher - te de luz

" ... o amor de quem quer que seja
do que quer que seja
o amor de um pequeno objecto
o amor dos teus olhos
o amor da liberdade...
podes vir podes vir em qualquer caravela
ou numa nuvem ou a pé pelas ruas...
podes vir e sentar-te e falar com as pálpebras
pôr a mão sob o rosto e ENCHER - TE DE LUZ
porque o AMOR meu amor
é este EQUILÍBRIO
esta SERENIDADE de coração e árvores "
Egito Gonçalves
imagem - Leszek Kowalski
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
esta gente - essa gente

O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente
Gente que não seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente
Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente
Gente que enterre o dente
que fira de unha e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente
O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente
Essa gente dominada por essa gente
não sente como a gente
não quer
ser dominada por gente
nenhuma !
A gente
só é dominada por essa gente
quando não sabe que é gente
Ana Hatherly
imagem - Cig Harvey
no sagrado útero das minhas mãos

" no tempo em que as crianças amanheciam,
eu pensava em ter filhos como se bastasse
esfregar as mãos. eu sorria por dentro,
fechava os olhos com força, preparando-me
para o rebentamento das águas. os dias iam
crescendo no meu ventre e, à medida que
cresciam, eu sentia o movimento de rotação
da terra, deitada de barriga para o ar.
porque o meu filho é um astro puro
à volta do qual a terra gira, no
sagrado útero das minhas mãos."
Alice Macedo Campos
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
limites
um medo
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
e se tudo de repente ?
é tempo
domingo, 15 de agosto de 2010
a humanidade da mulher

" OUSE, OUSE... OUSE TUDO !!
Não tenha necessidade de nada !
Não tente adequar sua vida a modelos,
nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém.
Acredite : a vida lhe dará poucos presentes.
Se você quer uma vida, aprenda... a roubá-la !
OUSE, OUSE TUDO ! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer.
Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso :
ALGO QUE ESTÁ EM CADA UM DE NÓS e QUE QUEIMA COMO FOGO DA VIDA !!
Andreas-Salomé
imagem -deviantart.com
chamado da vida
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
para que me avistasses
Por sua conta

" Um homem precisa viajar por sua conta. Não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver. "
Amyr Klink
extasiar-me

" Onda de sol, verso de ouro,
perífrase vã. Extasiar-me,
antes, por esta fusão,
mistura de brilhos. Ou, ainda
mais íntima, a consciência
extensa como o céu, o corpo de tudo,
semelhança absoluta. Respirar
na quebra da onda. Na água,
uma braçada lenta
até ao limite de mim."
Fiama Hasse Pais Brandão
imagem deviantart.com
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
madrugada
Amor - o interminável aprendizado
terça-feira, 10 de agosto de 2010
escrevo para desistir

" Ao amarrotar uma carta entre os dedos, sinto que está distante o fluir de momentos que foram meus e abandonei para sempre. É então que uma espécie de morte me percorre os sentidos.
O sol aquece, as folhas das árvores brilham. Devíamos estar gratos à vida só pelo facto de existirem árvores. Ao observá-las sinto haver em mim palavras adormecidas que hão-de despertar. Não chegou ainda a serenidade das longas tardes de Verão em que ao olhar o mar ficamos submersos na nossa vida interior.
As experiências penetram em cada um de nós e ficam a pertencer-nos. Mesmo as desagradáveis, aquelas que queremos afastar, permanecem insistentes, solidificam de um modo capaz de surpreender-nos. Quantas vezes uma simples palavra murmurada ganhou extraordinária importância, ou a expressão de um moribundo nos impressionou de tal modo que nunca mais pudemos esquecê-lo."
Isabel de Sá - Escrevo Para Desistir
a cordialidade dos pássaros

" Chamar pássaros com o alpiste
de amá-los. Eles pousam nos parapeitos. Nem
sombra de medo nessa aproximação.
Quase me sinto gêmea do que são parados
à beira da janela ou saltando no telhado
recém-chegados.
A cordialidade dos pássaros é sutil:
afloram o coração de quem os ama. "
Dora Ferreira da Silva
imagem - deviantart.com
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
o desejo de dizer o mundo
" Em silêncio
para dizer
que o céu é azul
que os corpos se movem no espaço
que doce é a tua boca
e amargo o teu desprezo
para dizer tudo isto
bastam-me os sentidos
as palavras
não dizem o mundo
dizem o desejo
de dizer o mundo "
Luís Ene
imagem - deviantart.com
para dizer
que o céu é azul
que os corpos se movem no espaço
que doce é a tua boca
e amargo o teu desprezo
para dizer tudo isto
bastam-me os sentidos
as palavras
não dizem o mundo
dizem o desejo
de dizer o mundo "
Luís Ene
imagem - deviantart.com
calar-se e fugir de tudo
sei que estou vivo

" Sei que estou vivo e cresço sobre a terra.
não porque tenha mais poder,
nem mais saber, nem mais haver.
Como lábio que suplica outro lábio,
como pequena e branca chama
de silêncio,
como sopro obscuro do primeiro crepúsculo,
sei que estou vivo,
vivo sobre o teu peito,
sobre os teus flancos,
E CRESÇO PARA TI. "
Eugénio de Andrade
imagem - deviantart.com
domingo, 8 de agosto de 2010
semente de um amor atribulado

" Só o lume dos teus beijos rompe
a treva onde a solidão nos mata.
Enrolamos a vida no escuro,
na semente de um amor atribulado.
Conhecemos o ritmo e a sede,
a convulsão do desamparo.
No sentido do corpo, no acerto
desce a força pelos braços
na violenta festa do prazer.
Tudo o que disseste
no desaforo da paixão
só podia incendiar a vida inteira
e encher de esperança o universo."
Isabel de Sá - O Brilho da Lama
à espera
sábado, 7 de agosto de 2010
dera-se a iluminação.

Fui à rua buscar a morte que andava desaustinada pelas paredes como cão raivoso. Ofereci-lhe o braço, trouxe-a comigo, fi-la minha amante. Num leito de linho nos deitámos e em segredo me falou dias seguidos sobre a sua infância, a solidão debaixo da terra, o amor pela natureza. Explicou-me como acariciava os bichos comedores de cadáveres e dessa alegria maliciosa.
A morte passou a ter para mim muita importância. Comecei a vesti-la de alvas roupas, coser-lhe flores ao crânio, amando-lhe a face lívida, iniciando-a numa sensualidade sem fim.
Então, numa manhã a Morte sorriu mostrando nos lábios o seu carácter perfeito, isento de mesquinhez; beijou-me a boca, as pernas, o coração. Perturbou-me.
No meu interior países fervilhavam, milhões de rostos se viraram à luz:
tudo era claro como nunca sucedera.
Começara outra vida: dera-se a iluminação.
Isabel de Sá - Esquizo Frenia
imagem - Lilya Corneli
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
não ver
soubesse eu...
soubesse eu dos dias verdes
em que a música é tão distante
e o mar rebelado;
soubesse eu do que me esperava,
enquanto escrevia palavras,
com a boca a servir de paleta e pincel
em desenhos perdidos
em ti;
soubesse eu do vendaval que havia de vir,
depois daquelas horas nas quais corremos soltos
pela relva
na felicidade sem palavras com palavras
de um amor desmedido;
soubesse eu de todas as coisas
que ainda hoje desconheço,
e não fosse um rio a desaguar no oceano
e não tivesse olhos glaucos e crédulos
num corpo que navegava livremente;
soubesse eu que certas coisas tu não sabias
e do vasto porto mar a avistar-se de santa luzia;
teria dado os exatos mesmos passos,
entregues ao vermelho da paixão.
Silvia Chueire
imagem - flickr.com
tempo

" o tempo é um lugar comum que passa
que se estende sobre a areia
que raramente se estende sob o murmúrio da pele
que nos engana e nos devolve
a todos os desertos
a nenhuma fonte
ao pico da solidão das palavras sobre o papel.
o tempo é só o registo do que deveria ter sido
do que nunca será.
a extrema facilidade em que vivemos a morte
todos os reflexos à beira da água
tudo por dizer
todos sem saber
quem seríamos se ousássemos viver. "
Isabel Mendes Ferreira
imagem - Maria J. Amorim
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