sábado, 31 de julho de 2010
desejo e desencanto

* DESEJO
O meu corpo
queima de desejo
minha pele arde
inflama
minha boca clama
por teu beijo
minh'alma te ama
febril eu me sinto
em chamas
e a chama
te chama
* DESENCANTO
Esquece tudo
que falei
as palavras já não
cabem no poema
a canção era
de amor
mas mudei o tema
se algum sonho
me sobrou
já não vale
a pena...
Ariadna Garibaldi
imagem - flickr.com
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Mãos
emotividade da cor

— A Cor é o aroma em corpo e embriaga pelo olhar.
Cor é soluço, cor é gargalhada,
cor é lamento, é suspiro,
e grito de alma desesperada!
Muitas vezes a cor ao som prefiro
porque a minha emoção é igual à sua:
— parada, estatelada
dizendo tudo, sem que diga nada,
no prazer ou na dor.
Gilka Machado - trecho emotividade da cor
quinta-feira, 29 de julho de 2010
garota calada
Em dias como esse, eu não sei o que fazer comigo mesma.
O dia todo - e a noite toda
Eu perambulo nos corredores seguindo as paredes, e debaixo da minha respiração
Eu digo a mim mesma que preciso de combustivel para levantar voo.
E há muita coisa acontecendo
Mas está calmo debaixo das ondas
No azul do meu esquecimento.
Debaixo das ondas
No azul do meu esquecimento.
Será que é por isso que me chamam de garota calada - garota calada ?
Eles não sabem como eu costumava velejar no profundo e tranqüilo mar
Mas ele me levou o litoral e levou minha pérola
E deixou uma concha vazia em mim.
E há muita coisa acontecendo
Mas está calmo debaixo das ondas
No azul do meu esquecimento ...
o caminhho de mim
muito leve
Dois poemas de Dora Ferreira da Silva :
* Mulher e Pássaro
Linha invisível
liga-me àquela andorinha:
tato percorrendo
um trajeto
de comunhão. O pássaro
debate-se em meu peito.
Ou coração? A andorinha
se esvai na tarde. Leva consigo
o que não sei de mim.
* Pássaro e Mulher
Quem me prende
mais do que a terra?
Impossível o vôo
agora.
Quente fremente
a intenção de alguém.
Desfez-se a palidez
perdi meu vôo
nas grades de seu peito.
Aprísiona-me - grilhão -
o seio suave e
no calor do instante
a união.
Dora Ferreira da Silva
imagem - photobucket.com
chamar pássaros

" Chamar pássaros com o alpiste
de amá-los. Eles pousam nos parapeitos. Nem
sombra de medo nessa aproximação.
Quase me sinto gêmea do que são parados
à beira da janela ou saltando no telhado
recém-chegados.
A cordialidade dos pássaros é sutil:
afloram o coração de quem os ama. "
Dora Ferreira da Silva
imagem - Photobucket.com
quarta-feira, 28 de julho de 2010
haicai
boneca

A boneca de feltro
parece assustada com o próximo milênio.
Quem a aninhará nos braços
com seus olhos de medo e retrós?
O signo da boneca é frágil
mais frágil que o de pássaro.
Confia. Assim passiva
o vento brincará contigo
franzirá teu avental
dirá coisas que entendes
desde a aurora das coisas:
foste um caroço de manga
uma forma de nuvem
ou um galho com braços
de ameixeira no quintal.
Não temas. Solta o
corpo de feltro. Assim.
Para ser embalada nos braços
da menina que houver.
Dora Ferreira Da Silva
imagem - Joan Kocak
terça-feira, 27 de julho de 2010
reflexão
Há certas almas
como as borboletas,
cuja fragilidade de asas
não resiste ao mais leve contato,
que deixam ficar pedaços
pelos dedos que as tocam.
Em seu vôo de ideal,
deslumbram olhos,
atraem as vistas:
perseguem-nas,
alcançam-nas,
detem-nas,
mas, quase sempre,
por saciedade
ou piedade,
libertam-nas outra vez.
Ela, porém, não voam como dantes,
ficam vazias de si mesmas,
cheias de desalento...
Almas e borboletas,
não fosse a tentação das cousas rasas;
- o amor de néctar,
- o néctar do amor,
e pairaríamos nos cimos
seduzindo do alto,
admirando de longe!...
Gilka Machado - Sublimação
imagem - Duy Huynh
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Modigliani
" Quando eu conhecer sua ALMA
pintarei os seus olhos. "
Amedeo Modigliani
Música : Le conseguenze dell'amore - Pasquale Catalano
hoje sou eu
o conto e o sonho
as horas

Em sua última carta para o marido, Leonardo Woolf, Virginia escreveu:
Querido,
Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que é a você que eu devo toda minha felicidade. Você foi bom para mim, como ninguém poderia ter sido. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade, sem igual. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.V.
Virginia Woolf
fotografia do filme - As horas
arte múltipla Mana Bernardes
Algumas frases de poemas escritos por Mana
ao longo da vida:
" esta cidade que destrói o infinito verde para construir edificações fadadas a tombar "
" uma memória de onde o amor gera flores minha bisavó com elas enfeitava as suas tortas de nozes "
" sonhos são construções do nosso dinamismo interno
e veias as fazem circular "
" a vida é tão leve no balançar das correntes
que ela pode se expor e se recolher calmamente "
" quando a rigidez tomar conta dos olhos
não me enchergarei mais "
" quanto tempo enganei
até meus olhos saltarem do meu corpo
neles permanecidos
assim percebi que o tempo
era meu engano em permanência."
" a luz percebida no breu se faz a estrela "
Mana Bernardes
[designer de jóias, poetisa e artista plástica]
domingo, 25 de julho de 2010
eu tenho que saber

" Tenho pés para andar e olhos para ver. Posso sentar-me ou fechar os olhos e dizer que não há sol nem estradas. Mas eu sei que há estradas e sol e que os olhos vêem e os pés andam. Por mais que eu queira, quando sei por dentro que uma coisa está certa, eu tenho de saber que está certa. E ainda que os outros saibam que está errada, isso não me ajuda. "
Vergílio Ferreira - trecho in contos
imagem - Ben Goossens
são o que são
trago dentro do meu coração
sábado, 24 de julho de 2010
Bright Star
" Antes fôssemos como as borboletas
e vivêssemos só três dias de verão -
três dias assim com você
que eu preencheria de tanto prazer
que cinquenta anos normais
jamais poderiam conter. "
John Keats
[poema do filme : Brilho de uma paixão]
o que é belo...

O que é belo há de ser eternamente
Uma alegria, e há de seguir presente.
Não morre; onde quer que a vida breve
Nos leve, há de nos dar um sono leve,
Cheio de sonhos e de calmo alento.
Assim, cabe tecer cada momento
Nessa grinalda que nos entretece
À terra, apesar da pouca messe
De nobres naturezas, das agruras,
Das nossas tristes aflições escuras,
Das duras dores. Sim, ainda que rara,
Alguma forma de beleza aclara
As névoas da alma. O sol e a lua estão
Luzindo e há sempre uma árvore onde vão
Sombrear-se as ovelhas; cravos, cachos
De uvas num mundo verde; riachos
Que refrescam e o bálsamo da aragem
Que ameniza o calor; musgo, folhagem,
Campos, aromas, flores, grãos, sementes,
E a grandeza do fim que aos imponentes
Mortos pensamos recobrir de glória,
E os contos encantados na memória:
Fonte sem fim dessa imortal bebida
Que vem dos céus e alenta a nossa vida.
John Keats - Endymion
tradução - Augusto de Campos

O QUE FAZ VOCÊ FELIZ ?
por Tânia Du Bois
Felicidade é o sentido que trata do estado de espírito – alegria. Ela deve se irradiar por todos os lados, para todos os cantos, em todos os momentos da nossa vida.
“O sorriso está escasso
nessa tal modernidade,
é preciso dar um passo
e mudar essa verdade.” (Eliana R. Jimenez)
É verdade, precisamos lembrar que muitas vezes não damos valor à alegria, talvez, porque pensemos ter coisas mais sérias para fazer, do que simplesmente abrir uma janela para sermos felizes.
“Um sorriso aquele dia
Era tudo que eu precisava.
Era tudo que eu queria,
Era tudo que eu sonhava.” (Mafalda N. Góes)
Também, sabemos que existe “aquele dia”, e que alguns lugares tendem a nos entristecer. O que não podemos esquecer é que a alegria é parte da filosofia da vida, é melhor sentirmos a alegria do que a tristeza, até porque, tentar ser e fazer alguém feliz é a mais prazerosa sensação existente. Acredito que as pessoas podem “passar adiante” esse espírito de alegria e, assim, enfrentar melhor as tristezas.
“Aquele belo sorriso
impossível não olhar,
sei agora o que preciso:
é só parar de chorar.” (Lucas Barbosa)
Isso não significa que uma pessoa alegre não tenha problemas, mas, talvez a alegria a ajude a se recuperar mais rápido. Como disse Nietzsche: “O que não me mata, só me fortalece.”
“O sorriso moldura o rosto
mostra o que a pessoa tem,
ele está sempre disposto
a escutar quem perto vem.” (Tamara Kaufmann)
O que realmente deveria fazer você feliz é tratar a alegria como se fosse algo superior, pois, no nosso mundo, ela pode nos unir, tornando os nossos dias em momentos felizes.
“O teu sorriso menina,
entusiasma o meu viver.
Meu coração desatina
meu juízo põe a perder”. (Ivo Gomes de Oliveira)
Basta sorrir e lembrar, hoje e sempre, das palavras de Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Tânia Du Bois - Portal Literal.com.br / Itapema SC Literatura
teria que ser mesmo assim mesmo ?

[...] Rogo por amor e ninguém me ouve. Mais valia não haver palavras, só suspiros e risos e choros. Talvez alguém ouvisse. Talvez alguém entendesse.
Dou comigo a rezar diante de uma parede de pedra e tenho por única resposta o eco da minha voz. Estou cada vez mais sozinha.
Ninguém me agarra e diz: “ Quero-te como não é possível querer mais alguém. Leva-me contigo. Ou então eu levo-te comigo.” Não. Tocam-me mas ninguém me agarra. Querem só tocar. Batem nos vidros, riem-se e eu rio-me. E depois partem.
Estou muito cansada. O meu coração está muito pesado.
Passaram tantos por mim. Porque não ficou nenhum ? Teria que ser assim, mesmo assim ?
Pedro Paixão
imagem - Ruuca
quase gosto da vida que tenho

" Tinha o vento contra a cara e as nuvens e as ondas do mar por conta própria. Sofria muito de amores e não havia amor que durasse que não magoasse. Jurava-me que um dia viria a não ser eu, sem saber o que dizia, sem antecipar a ilusão. Para me vingar de quem não gostava de mim, em primeiro lugar da minha mãe. E agora a dor de ser já quem se não queria, ultrapassada a irremediável distância que vai do desejo ao seu fim, sem nada mais poder adivinhar. SAUDADES DE MIM. DE QUEM NUNCA FUI."
Pedro Paixão
sexta-feira, 23 de julho de 2010
escrevo o teu nome...

"escrevo o teu nome
nas palmas das mãos
ao longo de muros
projecto sombras gestos
o voo de pássaros e corro
pertenço às noites dos rios que amas
e que cantam
que se escondem em poços
precipitando-se
em direcção ao inverno
sem regresso
toco a música que fica
mais perto da distância a minha partida
estava já nos nós dos teus dedos
nos anéis dos teus cabelos
no teu sorrir desperdiçando-se
por entre fios de música"
Tatiana Faia
quarta-feira, 21 de julho de 2010
palavras

De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.
A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha
Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro
Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
[Sylvia Plath -palavras]
imagem-deviantart.com
segunda-feira, 19 de julho de 2010
" E todas as estradas que temos que percorrer são tortuosas
E todas as luzes que nos levam até lá nos cegam
Existem muitas coisas que eu gostaria de te dizer
Mas não sei como
Porque talvez
Você vai ser aquela que me salva
E no final de tudo
Você é minha protetora...
Eu disse talvez
Você vai ser aquela que me salvará "
evidência

Eu sei o teu gosto
as tuas marcas do corpo
o tom e o perfume
das tuas esquinas
eu sei.
Tu te despenteias
te sujas
lambuzas
e eu adivinho
a beleza que tem
as tuas maiores,
mais ricas confusões.
As maneiras de andar
de emudecer
rodopiar
rir até não mais
e de cair no sono
e de bater asas
de se guardar do frio
são tuas maneiras
são esses teus dias
que são um pouco
os meus dias também.
Se tu somes
e te deixas morrer pelos cantos
na lassidão dos mendigos
se tu te entregas ao tempo
te dissolves nele
se tu te negas
e te misturas
à substância da madrugada
à água fosca da sarjeta
se tu somes, de repente,
eu vou saber.
Mariana Ianelli-trajetória de antes
imagem-flickr.com
domingo, 18 de julho de 2010
fragmento de alma

Faz tua casa um fragmento de alma,
Cobre o teu pensamento.
Vai, que estás em tempo de colher-te,
Um minuto para ser teu.
Interrompe tuas regatas desbravadas,
Saídas das marinas solitárias
E retribui para a terra
A demonstração de tuas patas.
Que não há segunda vez,
Um homem se esgalha da marga ou desiste.
Para a terra, dá teus domingos desagradáveis
E os risíveis.
Fica lasso, pétala urdida no sol e na água.
Vai, capaz de crescer.
Mariana Ianelli-duas chagas
imagem - deviantart.com
sexta-feira, 16 de julho de 2010
para que tu vivas

Para poder morrer
Guardo insultos e agulhas
Entre as sedas do luto.
Para poder morrer
Desarmo as armadilhas
Me estendo entre as paredes
Derruídas.
Para poder morrer
Visto as cambraias
E apascento os olhos
Para novas vidas.
Para poder morrer apetecida
Me cubro de promessas
Da memória.
Porque assim é preciso
Para que tu vivas.
Hilda Hilst
imagem-Albert Meige
alegria aos poucos
quinta-feira, 15 de julho de 2010
sugestão

Não cegue o fio da tua lâmina
contra a pedra em que o tempo transformou
a flor antiga que inventei cantando
quando sequer chegada eras ao mundo.
Nem cultives o cardo do infortúnio
em veredas por onde eu caminhava
antes da tua mão na minha vida.
Não podes apagar o que já é cinza,
nem afogar o que a água já levou.
Alguma sombra azul do que passou
vive no amor que nos abraça agora.
Não desperdices seu poder de luz.
Prepara, cada noite, a tua aurora.
Thiago de Mello-De uma vez por todas
imagem-photo.net
a janela encantada

A vida sempre foi boa comigo.
Quando soube que meu coração
estava carregado de sombras,
e que ele só se alimentava de luz,
abriu uma janela no meu peito
para que por ela possam entrar
o resplendor do orvalho,
o fulgor das estrelas
e o invisível arco-íris do amor.
Thiago de Mello-De uma vez por todas
imagem-flickr.com
quarta-feira, 14 de julho de 2010
o lugar da ferida
aprendizagem amarga

Chega um dia em que o dia se termina
antes que a noite caia inteiramente.
Chega um dia em que a mão, já no caminho,
de repente se esquece do seu gesto.
Chega um dia em que a lenha já não chega
para acender o fogo da lareira.
Chega um dia em que o amor que era infinito,
de repente se acaba, de repente.
FORÇA É SABER AMAR, perto e distante,
com o encanto de rosa livre na haste,
para que o amor ferido não se acabe
na eternidade amarga de um instante.
Thiago de Mello-Poemas Preferidos
imagem-arte de Vladimir Dunjic
terça-feira, 13 de julho de 2010
asas cobrindo a ferida do flanco
economizar amor é avareza

" Economizar amor é avareza. Coisa de quem funciona na
frequência da escassez. De quem tem medo de gastar
sentimento e lhe faltar depois. É terrível viver contando
moedinhas de afeto. Há amor suficiente. Há amor para todo
mundo. Há amor para quem quer se conectar com ele. Não
perdemos quando damos: ganhamos junto."
Ana Jácomo-cheiro de flor quando ri
imagem deviantart.com
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Ah,Deus...
domingo, 11 de julho de 2010
sexta-feira, 9 de julho de 2010
música

"Algo de miraculoso arde nela,
fronteiras ela molda aos nossos olhos.
É a única que continua a me falar
depois que todo o resto tem medo de estar perto.
Depois que o último amigo tiver desviado o seu olhar
ELA AINDA ESTARÁ COMIGO no meu túmulo,
COMO SE FOSSE O CANTO DO PRIMEIRO TROVÃO,
ou COMO SE TODAS AS FLORES EXPLODISSEM EM VERSOS."
Anna Akhmátova-Antologia Poética
imagem-deviantart.com
quarta-feira, 7 de julho de 2010
o amor ?
manifesto

Sim ao prazer sem custo.
Acatar, beber, dividir o bom
que venha feito o sol, gratuito.
Quem sabe se o dom, o sem-razão
e o sem-motivos possam mais
do que exigimos. Nem se duvide
do que é capaz a coincidência
entre coisas. Nesse mundo
em que gênios são servos de si mesmos,
pratique-se o descanso, para
que o fogo nunca esteja frio
e o coração passeie seus cavalos.
Eucanaã Ferraz- Cinemateca
imagem deviantart.com
terça-feira, 6 de julho de 2010
submergido
liberdade ofende
experimento
destino maior

"Ah,meu amor,não tenhas medo da carência:
ela é o nosso destino maior.O amor é tão mais fatal
do que eu havia pensado,o amor é tão inerente
quanto a própria carência,e nós somos garantidos
por uma necessidade que se RENOVARÁ CONTINUAMENTE.
O AMOR JÁ ESTÁ,ESTÁ SEMPRE.Falta apenas o golpe
da graça - que se chama PAIXÃO."
Clarice Lispector - Aprendendo a Viver
imagem flickr.com
segunda-feira, 5 de julho de 2010
domingo, 4 de julho de 2010
jeito egoísta de amar

A certeza vela atrás de um muro
ou dorme num poço
onde nada se escuta ou avista.
Sempre que partes, morro um pouco
por não saber se retornas.
Minhas mãos doem de tanto abrir-se
para que vás tranqüilo.
Só assim hás de querer estar comigo:
sem que eu insista.
Fingir que te deixo livre
é um jeito egoísta de amar.
Lya Luft
imagem - Enzo Penna
sábado, 3 de julho de 2010
o silêncio dos amantes
quando ainda havia esperança

Não me arrependo das horas que perdi a esperar-te
quando ainda havia a esperança.
A esperança que havia ainda quando, a esperar-te,
perdi horas de que não me arrependo.
Um instante na memória de chegares é mais valioso
do que jardins. Do que montanhas. Do que anos de tempo.
Arrependo-me de ficar ao sol, de sorrir,
de esquecer que devagar passam os dias. Os dias passam devagar,
esquecendo-se de sorrir ao sol e de ficar onde me arrependo.
José Luís Peixoto
sexta-feira, 2 de julho de 2010
o louco

Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”
Assim me tornei louco.
"E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós."
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