quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
dois poemas ingleses
I
A madrugada inútil me encontra numa esquina deserta:
sobrevivi à noite.
As noites são ondas altivas: ondas de crista pesada,
azul-escuras, carregadas de todos os tons de terra profunda,
de coisas desejáveis e improváveis.[...]
A onda essa noite deixou-me os resíduos de sempre:
alguns amigos odiados para conversar, música
para sonhos e cinzas amargas para fumar. As coisas
que nada atendem a meu coração amargo.
A onda grande trouxe a ti.
Palavras, quaisquer palavras, teu riso; e tua beleza
tão preguiçosa e incessante. Conversamos, e tu
esqueceste as palavras.[...]
Preciso chegar a ti, não sei como: guardo os ilustres
brinquedos que me legaste, quero teu olhar oculto,
teu sorriso real - aquele sorriso solitário
e zombeteiro que teu espelho frio conhece.
II
Com que posso prender-te ?
Ofereço-te o amargor de um homem que mirou e mirou
demoradamente a lua solitária.[...]
Ofereço-te o que de revelações houver em meus livros,
o que de hombridade e humor houver em minha vida.
Ofereço-te a lealdade de um homem que nunca foi leal.
Ofereço-te o cerne de mim que conservei, não sei como
- o coração central que não lida com as palavras,
não trafica com os sonhos e é imune ao tempo,
à alegria, às adversidades.[...]
Jorge Luis Borges in o outro, o mesmo
tradução Paulo Henriques Britto
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Menina, apesar de muitos elegerem Edgar Allan Poe como pai dos contos eu fico com Jorge Luiz Borges...
ResponderExcluiresse homem sabe o que escreve e porque escreve.
Adorei.
Abraços
Concordo plenamente com voce Malu : )
ResponderExcluirbjos