"O que eu vi,
à nascença, foi o céu.
No rasgão da retina,
a desatada luz: o meu segundo oceano.
Aprendi a ser cego
antes de, em linha e cor,
o mundo se revelar.
O que depois vi,
ainda sem saber que via,
foram as mãos.
Parteiros gestos
me ensinaram quanto,
das mãos,
a vida inteira vamos nascendo.
As mãos foram,
assim, o meu segundo ventre.
Luz e mãos
moldaram a impossível fronteira
entre oceano e ventre.
Luz e mãos
me consolaram
da incurável solidão de ter nascido."
Mia Couto
a vida inteira vamos nascendo...
ResponderExcluirpoema maravilhoso!!!
Bjokas Lu!