terça-feira, 23 de novembro de 2010

o desfotógrafo



Vejo tudo agora diferente,
como se o tempo contra o rio
dirigisse e de trás pra frente
eu descrevesse um livro
e cada palavra nele se tornasse
livre e me fizesse livre
e sílaba a sílaba toda a memória
desaparecesse - sumisse! -
como se na nossa frente, tudo
o que fomos um dia num passe
de mágica evaporasse num passe
de música, num passo - no ar!
Hoje, tudo dá-se a ver sem dor,
limpo,sem um traço de paixão.
Os poemas se apagaram e, repara,
façamos um balanço: DE NÓS
restou não mais que a folha livre
de depois do livro, retrato
em branco e branco.

Eucanaã Ferraz in Cinemateca
imagem arte de Andersen Ross

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